A expressão cultural brasileira que mistura arte marcial e música surgiu no país no século XVI, entre os escravos trazidos da África, que eram proibidos pelos senhores de engenho de praticarem qualquer tipo de luta. Com isso, os escravos utilizavam o ritmo e os movimentos de danças africanas para disfarçar os golpes da capoeira, que foi um instrumento importante na resistência cultural e física dos escravos brasileiros.

A prática, que chegou a ser proibida no país até os anos 1930, conquistou definitivamente seu espaço no coração não só dos brasileiros, mas de admiradores em todo o mundo. Em 26 de novembro de 2014, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura), declarou a roda de capoeira como sendo um patrimônio imaterial da humanidade. De acordo com a organização, a capoeira representa a luta e resistência dos negros brasileiros contra a escravidão durante os períodos colonial e imperial de nossa história.

Em Itupeva, o Contra Mestre Denis Piolho (Professor Denis Lopes) é um dos capoeiristas mais conceituados e grande referência: “Todo mestre de capoeira é uma referência, seja positiva ou negativa, como me ensinou meu mestre Flavio Caranguejo, a quem devo dinheiro, saúde e educação. Ele que está me conduzindo aí nesse processo de formação como pessoa e capoeirista. Mas não posso deixar de citar o Mestre Bimba e o Mestre Pastinha, que foram dois grandes ícones, e o saudoso Mestre Peixinho, que foi um divisor de águas na capoeira, fez uma revolução com várias nuances, criou uma didática, até porque ele também era professor de educação física”, comenta ele, sobre suas principais influências.

O Contra Mestre Dênis Piolho






Professor de educação física e gerente operacional da Academia Aliança), o Mestre Denis deu seus primeiros passos na arte nos anos 90 e viu a prática crescer no seu dia a dia, ajudando a definir a sua vida. “Comecei a capoeira, a princípio, pensando em bater nos outros, eu era um menino que apanhava muito (risos). Mas aí o meu mestre foi me moldando e me ensinou que a capoeira não é isso, é cultura. Ela foi uma arma usada pelos escravos em busca de liberdade, mas hoje ela é educacional”, conta ele. “Hoje eu uso a capoeira em tudo na minha vida, porque ela faz você transferir para a vida real aquele mundo mágico que tem dentro de uma roda”, continua Denis, que em 1999 passou de aluno a professor, quando iniciou um projeto que se tornaria a ONG O Saci (fundada em 2005). “Nós começamos a lecionar no clube Cabana e hoje temos uma sede própria no bairro das Hortênsias e vários lugares espalhados pela cidade, Jundiaí, e até um trabalho fora do país que já está começando a produzir frutos”.






Sobre os benefícios da prática, Denis destaca que “ela tanto desenvolve o indivíduo na questão física, por trabalhar o corpo todo, é completa. Na parte mental, nós capoeiristas trabalhamos essa questão através da história, da música, e outros elementos da cultura brasileira que fazem parte desse ‘xadrez mental’, que a capoeira pode fazer. E na parte social é muito interessante, numa roda se encontram o pobre, o rico, o negro, o branco, o ocidental, o oriental, enfim, é uma prática que une todas as pessoas, um meio de intercâmbio social muito grande”.

A Capoeira na Mídia

Embora seja uma arte marcial que possua praticantes no mundo todo e atraia cada vez mais simpatizantes, a capoeira ainda não tem uma representação maciça na mídia. Alguns casos, no entanto, merecem destaque e chamaram a atenção, como o filme Esporte Sangrento (Only the Strong), de 1993, que trazia Mark Dacascos no papel principal, interpretando um professor que, depois de uma temporada no Brasil, volta para os Estados Unidos e ensina capoeira para um grupo de alunos desajustados num bairro de vulnerabilidade social. Carregado de clichês e com uma trama previsível, o filme fez bastante sucesso entre os brasileiros, levando o “paranauê” da canção que “dava forças” (segundo a sinopse do próprio filme) ao protagonista, ao imaginário popular.

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Em 1994, foi a vez da arte dar as caras no filme Desafio Mortal (The Quest), dirigido e protagonizado por Jean Claude Van Damme. Na história, o capoeirista César Carneiro é um dos participantes de um torneio que reúne os melhores representantes de várias artes marciais.

Já em 1997, a capoeira chegou aos videogames em Tekken 3, uma franquia de sucesso, que trouxe o personagem Eddy Gordo, modelado a partir do capoeirista Mestre Marcelo “Caveirinha”, e se tornou o preferido entre os brasileiros. Antes disso, em 1991 e 1995, os games Fatal Fury e Fatal Fury 3, da SNK, já haviam apresentado dois capoeiristas, Richard Meyer e Bob Wilson, respectivamente, mas sem tanta repercussão quanto Eddy. 

E em 2009, chegou aos cinemas a produção brasileira Besouro, narrando a história do órfão Manuel Henrique Pereira, reconhecido capoeirista que se transformou num dos grandes mestres da capoeira.

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“Toda divulgação, mídia, ação que seja voltada para divulgar a capoeira, em filmes, jogos, revistas, jornais é bem-vinda. Nas escolas, nos anos iniciais, é muito importante que as crianças conheçam a capoeira, não necessariamente para ele se tornar um capoeirista, mas para se apropriar daquela cultura, que é dele também”, conclui o Contra Mestre Denis.

Serviço

Quem quiser conhecer mais de capoeira em Itupeva pode procurar a ONG O Saci, na rua Rua Alberto Mondin, 88 – Parque das Hortênsias, ou a Academia Aliança, na Av. Emílio Chechinato, 809 – Vila Sao João. Informações pelo telefone: 4496-2549. A academia também oferece outros serviços, como musculação.