Aycha, a carateca itupevense que tem vencido a depressão e dado exemplos de força e superação
Embora o mês da campanha para chamar a atenção sobre questões como suicídio e depressão tenha sido setembro, com o Setembro Amarelo, falar sobre essa condição sempre é importante, ainda mais quando é possível citar exemplos de pessoas que enfrentam uma situação complicada e, com muita força de vontade, auxílio de familiares e amigos e o tratamento adequado, conseguem se colocar frente a frente contra a doença e, mesmo quando vão a nocaute, se levantam e voltam para a luta.
Em Itupeva, uma pessoa que se encaixa na descrição é Aycha Camily Araújo dos Reis, jovem atleta que, com apenas 16 anos, enfrenta uma dura batalha contra a depressão e vai, aos poucos, voltando às conquistas esportivas e recuperando a confiança para seguir em frente e servir de inspiração para outros.
“2019 foi um ano de lutar contra eu mesma, entrei em depressão e, com isso, tive várias consequências ao ponto de ficar internada, e no dia seguinte perdi o meu padrinho por câncer. Outra consequência foi da minha mãe pedir para ser mandada embora do serviço que mantinha a gente, porque cheguei em um nível da depressão que não podia ficar sozinha”, explica a garota, que conheceu o Karatê aos cinco anos ao acompanhar o irmão e o primo, se apaixonou pela arte marcial e pratica desde então, sendo um dos destaques do Projeto Karatê na Escola, desenvolvido no município pela Associação Subaru em parceria com a Prefeitura.
Quando a depressão bateu pesado, Aycha interrompeu uma rotina de treinamentos e competições que vinha desde a infância. “Estava tendo crises de ansiedade antes de entrar no tatame e, acredite, deixar o karatê, deixar as competições, me machucou muito, mas eu não desisti, sempre lutei. Foi muito difícil eu ficar de atestado de tudo, karatê, escola, trabalho, muito difícil mesmo, ficar vegetando em cima de uma cama, não saber se estava fazendo sol ou se estava fazendo frio”, conta a atleta.
A recuperação não foi fácil e nem imediata, inclui um processo gradativo e uma batalha constante. Atualmente, a jovem faz terapia e seguirá um intenso acompanhamento psicológico, além de precisar de medicação. “Hoje tenho dificuldades ao levantar, mas sempre luto contra os sentimentos ruins, costumo acordar e ir na musculação cedo, treinar karatê no período da tarde e estudar de noite, isso de segunda, quarta e sexta. E de terça faço curso, no qual novamente minha mãe se sacrifica pra me ver tendo um futuro bom e feliz”.
A mãe, aliás, dona Roseli, tem sido o principal pilar de sustentação de Aycha. “Sempre tive minha mãe ao meu lado me apoiando e tirando dinheiro da onde não tinha, só para poder ver o brilho nos meu olhos. Roseli é o nome dela, a mulher que sempre lutou por mim. Hoje sou forte, porque fui criada por uma mulher forte”, destaca, sem deixar de citar também os Senseis Paulinho e Joacir de Almeida pelo apoio para conquistar os sonhos.
A batalha, embora dura, tem sido vencida aos poucos e, o último dia 28 de setembro marcou a volta da atleta às competições. Disputando a IX Copa São Paulo de Karatê, torneio classificatório para o Campeonato Paulista da Federação Paulista de Karatê, Aycha mostrou mais uma vez que o talento para as artes marciais, unido à obstinação, tende a ser recompensado. Única representante da Subaru, levou a Associação ao 78º lugar dentre 161 equipes competindo, ao conquistar o ouro no Shiai Individual Júnior Feminino 2º Kyo e acima (-53 kg). A conquista foi a primeira da nova fase e se junta às dezenas de outras medalhas já conquistadas anteriormente.
“O que me fez ficar apaixonada pelo karatê foram os desafios; o karatê não é só uma luta, ele vai muito além disso, me ensinou a ter um estilo de vida. A querer lutar e ser melhor a cada dia”, analisa a faixa roxa que teve também o potencial reconhecido pela academia Top Fitness Gym, que tem ajudado no trabalho da parte física.
“A depressão me fez ter mais fé do que nunca. Eu venci, e hoje estou nos tatames fazendo o que eu amo novamente”, finaliza a carateca, sabendo que o adversário pode ser assustador às vezes e levar à lona, mas que a força mesmo está em levantar e continuar lutando.
Quem quiser conhecer mais sobre a Aycha, também pode dar uma olhadinha no canal que ela criou recentemente no YouTube.
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