Itupeva tem um longo histórico em competições esportivas e é comum contar com atletas talentosos representando a cidade nas mais diversas modalidades. Encontrar alguém que, além do talento e das conquistas esportivas, também mostre a mesma competência em diversas outras áreas, talvez seja um pouco mais difícil. Que acumule duas formações universitárias e divida o seu tempo como atleta de alto rendimento em um grande time, com o trabalho jurídico de advogada e, de quebra, ainda consiga manter um interessante canal no Youtube, já parece quase impossível, mas essa pessoa existe; se chama Stellamarys de Santana Terra, a Boa de Bola Stella Terra.




Hoje com 31 anos, a atleta de futsal desde a infância representou Itupeva na Copa TV Tem nos últimos três anos, tendo conquistado o vice-campeonato em 2016. “Infelizmente o título ainda não veio, mas pelo trabalho que vejo que é realizado e a dedicação de todos os envolvidos, acredito que virá em breve”, aposta, antes de explicar os motivos que a fizeram aceitar o convite.

Na última edição da Copa TV Tem






“Já me deparei com diversas situações que fizeram com que hoje eu reflita bastante antes de me comprometer com qualquer equipe como me comprometi com Itupeva, pois vejo que muitos ainda não lidam com a modalidade com o respeito que ela merece. Diante disso, pelo fato de eu ter percebido alguns valores significativos para a modalidade e advindos dos envolvidos com a equipe itupevense, como o respeito, isso fez com que o convite de Itupeva para jogar qualquer competição seja sempre a prioridade frente aos demais convites que venham a surgir”, garante.

Natural de São Paulo, capital, onde vive e atua como advogada, além de jogar pela equipe São Bernardo do Campo/Sabesp, Stella aponta a importância dos projetos municipais que visam a inclusão de crianças dentro do esporte como o que é realizado em Itupeva pela Prefeitura. “Devem sempre receber o respeito e admiração de todos, pois posso dizer que já vi muitas pessoas serem ‘salvas’ pelo esporte. Ele abre caminhos, tira das ruas, tira das drogas e da violência. É uma válvula de escape para quem tem poucas oportunidades. E ainda, vejo ser super importante os dois polos (social e competitivo), pois as crianças que participam do projeto municipal podem almejar chegar na equipe de competição, o que se torna uma meta para que ela se dedique em busca dos seus objetivos. Em contrapartida, grande responsabilidade têm as atletas envolvidas com a equipe competitiva porque são exemplos para as crianças. Assim, creio ser de suma importância a manutenção dos projetos, tanto com as crianças, quanto com a equipe de competição, ambos se complementam”.



Carreira de sucesso no esporte

“Jogo futebol desde que me entendo por gente. Comecei brincando com os meus irmãos no quintal de casa quando eu tinha entre 5 e 6 anos de idade e, desde então, sempre joguei campeonatos escolares. No ensino fundamental iniciei os treinamentos com o time de rendimento do colégio onde eu estudava e, a partir daí, passei a participar de diversas competições escolares e amadoras. Quando atingi idade para Jogos Regionais passei a disputá-los”, conta Stella, que logo em sua primeira participação nesta disputa, jogando por Carapicuíba, chegou até a final contra Osasco, representada pela UniSant’Anna, referência no futsal.

A atuação atraiu a atenção das rivais, que a convidaram para jogar pelo time, onde disputou competições oficiais de futsal e de futebol.

Em 2005, já atuando por Jaguariúna desde o ano anterior, foi convocada para a Seleção Brasileira Sub-20, que se preparava para disputar os Jogos Sul-Americanos no Chile. O sonho de representar o país, no entanto, foi interrompido. “Na última convocação que seguiríamos em viagem, sofri uma lesão no joelho que me tirou da competição”, relembra.

O revés não a fez desistir e continuou atuando em alto nível, sem deixar de se dedicar aos estudos – se formou em educação física em 2009. Em 2011, já de volta à sua cidade natal, foi estudar direito – outra de suas paixões – e teve de abrir mão das competições de alto rendimento. Mas o retorno à elite não tardaria. “Após o término do curso de Direito e a minha estabilização na área, consegui retornar ao alto rendimento junto à equipe de futsal São Bernardo do Campo/Sabesp no ano passado, a qual represento até os dias atuais. Estamos nas fases finais do Campeonato Paulista da FPFS (Federação Paulista de Futebol de Salão) e nos preparando para os Jogos Abertos do Interior, em São Carlos, em novembro”.

O Canal Boa de Bola

Embora o Canal no Youtube tenha nascido há apenas dois meses, Stella conta que já vinha pensando na ideia há mais de um ano, por achar importante uma atleta que vivenciou a modalidade falar da realidade do futebol e do futsal dentro do país.

“É uma maneira de mostrar para todos que a modalidade tem muita atleta de qualidade, dentro e fora das quatro linhas, mostrar o trabalho que é realizado com o futebol/futsal feminino, mostrar que é possível, sim, mulheres realizarem desafios de futebol (o que vemos por aí são canais que visam somente jogadores), enfim, dar a visibilidade que a modalidade precisa e merece”, explica.




Nesse pouco tempo de vida, o Canal já conta com 10 vídeos e participações importantes, como entrevista com a melhor do mundo na modalidade (Amandinha, do Leões da Serra) e até um bate bola com o ex-ídolo do Corinthians, Marcelinho Carioca.






“Ainda que seja um canal com foco na modalidade feminina, já tivemos a participação do Marcelinho Carioca, momento que pude ter a experiência de entrevistá-lo e bater uma bolinha com ela (risos). Então é um canal que está aberto a todos, tanto da modalidade feminina, quanto a masculina”, comemora Stella, que admite não ter experiência anterior com a área: “Creio que o fato de eu ser advogada e sempre estar em contato com o público, atuar em audiências, realizar consultas jurídicas, ajudou bastante na minha desenvoltura”.

Para tornar o projeto realidade, a atleta conta com a ajuda de Camila Reggiolli na elaboração, gravação e edição dos vídeos; e das sócias-proprietárias da produtora Listos Produções, Patrícia Calil e Fernanda Martinez. “Além dessas três pessoas, claro que a minha família é o pilar que me dá força para que tudo aconteça”, revela.






No vídeo mais recente, Stella fala sobre a realidade do futsal feminino no país. “Eu pude vivenciar tanto o futebol quanto o futsal, e ambos precisam de muito ainda para chegar no patamar que merecem, pois contam com jogadoras super dedicadas e com uma gana imensa de fazer a modalidade crescer dentro do nosso país”, avalia, considerando que o futebol de campo, ainda que muito menos valorizado que o masculino, tem ganhado espaço, diferente do futsal.

“Creio que ele não vive, mas sim, sobrevive, justamente pelo amor das atletas que praticam e pelo apoio advindo de algumas pessoas que acreditam na modalidade. O Brasil possui a atual melhor jogadora do planeta, ganhou quatro títulos individuais como melhor do mundo. Ainda tem a Vanessa, que venceu três vezes o prêmio. E quem conhece esses dados? Somente os amantes do futsal feminino brasileiro”.

Segundo ela, a responsabilidade maior é da Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS), que poderia investir mais na modalidade, com um calendário bem elaborado, amparo às Federações; além do apoio de incentivadores, inclusive no âmbito público, para que as equipes possam dar condições às jogadoras.




“Mas a realidade não é essa. A jogadora de futsal tem um emprego (porque precisam prover a própria subsistência) e paralelamente se dedica à modalidade, treinando duas ou três vezes por semana. É muito ampla e questionável toda essa questão que envolve o futsal feminino no Brasil e não se resume somente a esses pontos que citei”, completa e conclui, sem nunca perder a esperança pelo esporte que ama: “Sempre fica a nossa esperança por dias melhores, seja para o futebol como, também, para o futsal feminino”.

O Canal Boa de Bola está disponível no Youtube e vale a pena conhecer. Vale também seguir no Instagram: @boadebola