Quem vê Makoto Saito durante uma partida de vôlei adaptado, atividade que pratica algumas vezes por semana, talvez não imagine que por trás desse senhor animado, que vibra a cada lance do jogo, mas se expressa com poucas palavras e sotaque inconfundível de sua descendência asiática, esteja um cantor que a cada dia se destaca mais nos circuitos de Karaokê regional.

Makoto durante um treino de vôlei adaptado

Essa história de sucesso nos palcos, que começou na infância, mas foi retomada somente há alguns anos, teve mais um capítulo nesse último fim de semana no Instituto Cultural Nipo Brasileiro de Campinas, quando Makoto venceu, pela quinta vez, a disputa na categoria A-5 no 16º Japan-Brasil Shinzen Concert Koryukai – Zkair, ficando a apenas uma vitória de subir para a categoria Especial, que conta com cantores com ainda mais qualidade e exige 12 vitórias para o acesso à categoria Extra, na qual 16 vitórias levam o competidor à nata dos cantores de karaokê japonês, a categoria Super-Extra.

Makoto com seu mais recente troféu

“Foi muito disputado esse último, tinha muita gente boa. Agora estou a uma conquista de subir de categoria, com competidores ainda mais experientes, o que me anima muito”, comenta Makoto, que explica também que sua história musical começou aos nove anos de idade. “Na minha família de nove irmãos, todo mundo cantava, principalmente meu pai. Mas quando fui para o Japão, acabei parando, lá era muito trabalho, não sobrava tempo, só ia algumas vezes com minha filha, mas sem competição”, admite o nissei de 71 anos, que passou 20 desses na Terra do Sol Nascente, retornando ao país apenas em 2011 e voltando a competir por recomendação da Associação Nipo Brasileira de Jundiaí. “Lá eu só participei uma vez, em um shopping na cidade de Fukui. Estava passeando com a minha filha e estava tendo essa competição. Me inscrevi na hora mesmo, acabei ganhando um vale-compras de 100 dólares”, relembra, falando com carinho da filha que, também apaixonada por karaokê, reside no Japão até hoje.

Sobre sua influência musical, embora Roberto Carlos seja um dos cantores que mais admira, seu preferido mesmo é o japonês Itsuki Hiroshi, cujo show já teve oportunidade de assistir em uma das vezes que o artista esteve no Brasil e se apresentou em São Paulo. Já no circuito de karaokê, com orgulho, ele admite: “Meu irmão caçula (único que ainda canta, além de Makoto) é o cara a ser batido, está entre os melhores da região”.

O cantor japonês Itsuki Hiroshi

Do lado feminino, embora com menos experiência, Itupeva também conta com uma representante vencedora nas competições de karaokê: a japonesa naturalizada brasileira Kyoko Goyogi. Ao contrário de Makoto, que nasceu no Brasil e passou 20 anos no Japão, “Kiki”, como é chamada pelos amigos, nasceu em Kagoshima, mudou-se para o Brasil aos quatro anos de idade e, desde então, nunca mais retornou para sua Terra Natal. “É um sonho que eu tenho, de poder passear lá”, conta.

Kyoko recebendo uma de suas premiações

Aos 63 anos de idade, sua história no karaokê começou apenas aos 60 quando, depois de tanto tempo acompanhando apenas da plateia, decidiu se inscrever com um professor de música e se arriscar no palco. “Na primeira vez que cheguei para cantar foi difícil. Cheguei no palco e aquele pessoal todo sério, com a cara fechada. E para mim sempre foi algo feito pela diversão. Claro que todo mundo quer ganhar, mas o que vale é a participação, fazer amizades, aprender”, pondera Kiki, que começou na categoria B, mas já coleciona conquistas, como o acesso para a categoria superior, a A-4. “Minha primeira vitória foi surpresa, eu não esperava. E é difícil, é bastante concorrido. Agora, na categoria que estou, é ainda mais difícil, tem o dobro de competidores”, completa ela, que já é conhecida no circuito pela sua animação e alegria.

Na música brasileira, Kiki diz gostar bastante do sertanejo universitário, principalmente do movimento atual com muitas mulheres fazendo sucesso. Já em seu idioma de origem, prefere as canções mais carregadas de sentimento, do estilo conhecido como Enka, sendo a cantora Fuji Ayako sua predileta. No karaokê, segundo ela, a grande estrela do momento é Miriam Okada.

A cantora japonesa Fuji Ayako

Também integrante da equipe de vôlei adaptado da Prefeitura de Itupeva, Kiki pode ser considerada uma multi-atleta, dada a quantidade de atividades que desempenha. “Faço Taiko (tambor) há quatro anos na Nipo de Jundiaí, já nos apresentamos na Feira Japonesa do Maxi Shopping e em vários festivais em cidades da região”. Em Itupeva, graças às atividades gratuitas oferecidas pela Prefeitura, Kiki mantém sua agenda cheia de compromissos: “Faço Pilates com o Diego (professor da secretaria de Esportes e Lazer, com aulas na Chácara do Abobrinha), Yoga no CCI (Centro do Idoso) e ainda treino tênis de quadra. No ano passado, a Milka (amiga e uma das mais ativas da melhor idade de Itupeva) me chamou para jogar, eu nem sabia pegar na raquete e ela me ensinou. Com um mês de treino já me inscrevi para participar da modalidade no JORI (Jogos Regionais do Idoso)”, comemora, e faz uma constatação: “Faço tudo isso pela saúde e é muito bom que a prefeitura permite isso, que está muito legal. Temos esse espaço para usufruir. Isso está maravilhoso! Às vezes quando conto para alguma pessoa sobre tudo isso, pensam que gasto um dinheirão para manter as atividades, mas eu digo ‘não, é tudo grátis, eu tenho uma Prefeitura que é ótima e oferece tudo gratuitamente’”.

Kyoko no treino de vôlei adaptado, uma das várias atividades que pratica

O próximo desafio dos campeões da voz já tem data, dia 2 de julho, novamente em Campinas. Se terminarão com novo troféu, não há como saber. Mas uma coisa é certa, como bem define Kiki: “O importante é a diversão, as amizades que são feitas, a experiência”. E nesses quesitos, a Melhor Idade de Itupeva é imbatível.