Dentre as várias atividades esportivas que a Prefeitura de Itupeva oferece gratuitamente por meio da secretaria de Esportes e Lazer, o PEPT – Projeto Esporte Para Todos de Itupeva é uma das que tem se destacado muito e não apenas pelo seu caráter esportivo e de atividades motoras, mas também por todo o trabalho social e humano que realiza, atendendo, desde pessoas com deficiência aptas a praticar esportes de alto rendimento, até pessoas com deficiências mais severas.

“O projeto é para todas as pessoas com deficiência. Alguns têm condição de participar de competições, tornarem-se paratletas, já outros, o PEPT visa ajudar com a socialização, estimulação e melhora na coordenação motora”, explica a professora Jane Bergantin, criadora e responsável pelo projeto na secretaria de Esportes.

Jane e Alessandra com os alunos em Festival em Jundiaí

Atualmente, o PEPT conta com cerca de 80 alunos inscritos nas modalidades de atletismo, natação, tênis, bocha e ciclismo, e a professora Jane conta com o auxílio, desde o ano passado, da também professora Alessandra Gilioli e, mais recentemente, também do estagiário Gustavo Rodrigues, em aulas que são realizadas no Parque da Cidade, na academia Kim Tênis e no S.B.R.I. Alguns desses alunos participam de competições e já tiveram conquistas, como Ricardo Novais, que já ganhou algumas medalhas em provas de corrida, a última no Circuito Loterias Caixa; e os tenistas Matheus e Francisco, que integraram a Delegação Brasileira nos Jogos Latino-Americanos das Olimpíadas Especiais disputados no Panamá, em abril, e retornaram ao país com medalhas.

Francisco e Mateus no Panamá

Um Projeto que beneficia muitos no município

Essas conquistas, no entanto, por mais importantes que sejam, não são o principal do PEPT, e sim a mudança que promove não apenas na vida de quem participa do projeto, mas de toda a família, conforme conta Patrícia Ordini, mãe de Lorenzo, de 6 anos e integrante do PEPT há um ano: “Foi uma divisão de águas para a gente. Na socialização, na vivência, ele (Lorenzo) tinha mais dificuldade na socialização, não se aproximava das crianças. Hoje, já consegue brincar, compartilhar os brinquedos. Sem contar a atividade física, ele ama natação! Já participou de três festivais de natação e atletismo. A importância do projeto é total, absolutamente!”, elogia.

Patrícia acompaha o filho Lorenzo

Quem também ressalta a importância do projeto é Maria Benedita Rodrigues, de 67 anos e que, há 5, foi vítima de um AVC e, desde então, só é capaz de se locomover com apoio. Há cerca de 1 ano e meio, ela passou a integrar o PEPT e não perde os treinos de bocha e natação. “Faz muita diferença na minha vida, quando não posso ir ao treinamento eu sinto muita falta”, diz ela que, confessa “morrer de medo de água”, mas que, hoje, com auxílio das professoras, já é capaz de tirar os pés do chão nos treinamentos na piscina.

Maria não perde as aulas de Bocha e de hidro

Marilza Messias da Silva, mãe de Matheus, que além de autista também é deficiente visual, acompanha o filho no projeto já há um ano e meio e fala um pouco sobre as melhorias na vida da família: “Eles participam de festivais, ganham medalhas, é uma delícia! É uma mostra que eles também podem fazer e participar, e até para nós, como pais, nos sentimos mais realizados”.

Marilza com o filho Matheus

Mãe de Denilson, Joselma Silva de Souza também acompanha o filho há mais de um ano e concorda: “Acho o projeto muito bom e ajuda muito no tratamento dele. É notável a melhoria que ele teve depois que entrou no PEPT”.

Joselma e o filho Denilson

Cristiano da Silva Prado, pai de Natã, de 13 anos, faz parte do PEPT há pouco tempo, mas diz já ser possível notar a mudança na vida do filho: “Faz três meses que fiquei sabendo do projeto e vim procurar, estou achando muito bom. Ele se distrai, interage, ficou mais sociável. Valeu muito a pena trazê-lo”.

Natã com o pai Cristiano

A caminhada do PEPT

O projeto, que hoje auxilia quase uma centena de pessoas com deficiência no município, foi implantado na cidade apenas em 2014, mas sua ideia começou a surgir bem antes disso, quando, há 18 anos, a professora Jane Bergantin, na época, ainda cursando faculdade de Educação Física, conheceu as Olímpiadas Especiais. Estagiária em aulas de tênis, já com alguns alunos com deficiência, o interesse só cresceu, levando-a a se tornar voluntária nas Olimpíadas Especiais, função que realiza até hoje.

As professoras durante uma aula

Trabalhando com a Apae já desde 2004, Jane teve a ideia do PEPT em 2010, enquanto cursava pós-graduação em Educação Especial e entrou para o Conselho de Pessoa com Deficiência de Itupeva. O Projeto foi apresentado à secretaria de Esportes e Lazer do município, mas a implantação foi apenas em 2014, com Jane prestando serviço à Prefeitura. Em 2016, depois de ser aprovada em concurso público para contratação de professores de educação física, Jane foi convocada e passou a integrar a secretaria de Esportes, podendo se dedicar inteiramente ao projeto.

Desde a sua implantação, vários atletas com deficiência descobriram sua vocação esportiva, algo que, mesmo com o trabalho que Jane já vinha realizando no município desde 2004, seria muito mais difícil e, além do apoio da Prefeitura de Itupeva e da Academia Kim Tênis, Jane ganhou mais um grande auxílio, da também professora da secretaria de Esportes, Alessandra Gilioli.

“Sempre tive vontade de participar, meu trabalho de conclusão de curso na faculdade foi sobre handebol para deficientes. No ano passado, passei a trabalhar com a Jane e estou aprendendo muito com ela, sobre como trabalhar com Atletas Com Deficiência”, explica a segunda integrante da dupla referência dos paratletas do município.

Apesar de avanços, paratletas ainda sofrem com falta de incentivo

Embora a visibilidade para os atletas com deficiência tenha crescido, principalmente depois da realização da Paralímpiada no Brasil, em 2016, as modalidades ainda sofrem muito com falta de investimento e incentivo. “Basta ver o que a (TV) Globo fez na Paralimpíada, desmontou tudo que tinha montado no Centro Olímpico após as Olimpíadas e só falaram do evento nos telejornais”, comenta Jane. “Acredito que se fosse mais divulgado na mídia, como qualquer outro esporte, seria mais fácil para conseguirmos patrocínio”, avalia.

Em Itupeva, apesar do trabalho excelente de Jane e Alessandra, por meio da secretaria de Esportes e Lazer, ainda há pontos que precisam de melhorias para que os atletas possam se dedicar às atividades, como por exemplo, falta de local de treinamento de atletismo adequado e também de uma piscina aquecida. “O atletismo a gente consegue adaptar no Parque da Cidade, mas a natação não tem como, então no inverno nós treinamos ciclismo no lugar da natação, mas o ideal seria poder ter essas duas atividades ao mesmo tempo”, explica Jane.

Ricardo é um dos atletas

Sobre isso, a dupla já chegou a se reunir com o prefeito Marcão Marchi, que reconheceu a importância do projeto e se comprometeu a buscar formas para que o PEPT possa crescer.

Outro plano para ser colocado em prática é transformá-lo em uma Associação, o que possibilitaria ao projeto participar de competições, como a das Loterias Caixa, que só aceitam inscrição para esse tipo de entidade.

Enfim, assim como qualquer atividade para pessoas com deficiência no país demandam ainda muitas melhorias, o trabalho em Itupeva também carece de mais condições e crescimento, mas muito do que foi conquistado até aqui, se deve a esse projeto que, assim como as pessoas que beneficia, continua seguindo em frente, apesar das dificuldade e deficiências, sempre surpreendendo e baseado, principalmente, no amor e na dedicação de seus idealizadores e participantes.