União 3P: Quatro décadas de gols em Itupeva
Desde o seu início, em 1986, muitos times já disputaram o título do Campeonato Amador de Itupeva e escreveram seus nomes na história do mais tradicional torneio de futebol do município, reconhecido em toda a região pela sua qualidade. Poucos, no entanto, podem se orgulhar de um legado esportivo tão bonito, que se confunde com a da própria cidade, como o União 3P.
A história da criação do time é familiar. Em 1976, Sebastião Marciano Sobrinho, o seu Ney, saiu do Paraná para trabalhar em Itupeva, na cerâmica 3P (na época ainda Mina Mineração de Argila), que depois batizaria o time. Pouco tempo depois, seu tio Jovino Antonio dos Santos deixou Astorga – pequeno município no Paraná, a 420 km de Curitiba, onde já disputava o campeonato da Liga Astorguense de Futebol – e repetiu os passos do sobrinho Ney, indo trabalhar e viver na cerâmica. Ali eram dados os primeiros passos do time.
“A gente morava na cerâmica e, nos anos 70, meu pai e o gerente da época, o Hildo (Pereira da Silva), fundaram o União 3P. Depois que eu nasci, em 1980, mudamos para Jundiaí e meu tio Jovino assumiu definitivamente o time, permanecendo na diretoria até o seu falecimento, em (1º) junho deste ano”, explica o filho de Ney, Hélio Marciano, o Helinho.
Silvio Luiz dos Santos, o Silvinho, quarto dos seis filhos de Jovino, dá mais detalhes da criação do time. “Meu pai era agricultor e veio do Paraná em 1978 para trabalhar na Cerâmica, trazido pelo sobrinho (Ney), que conhecia a vida dura que ele tinha lá para criar seis filhos. A cerâmica já funcionava desde 1972 e o time já existia, chegou a ter outros nomes (Operários, 3P), até chegar ao União 3P, quando a cerâmica já estava desativada”, explica.
Assim, quando a Prefeitura lançou o primeiro Campeonato Amador no município, em 1986, o time já vinha de anos de experiência na disputa de torneios não oficiais na cidade.
O primeiro título veio na quarta edição (em 1989), quando venceu o Bom Jardim na final, depois de ter ficado no “quase” contra o GE Folan no ano anterior. Ao longo dos anos, se firmou como um dos maiores campeões da competição, com cinco títulos conquistados (89, 96, 98, 2000 e 2002), atrás apenas do Bahia, que tem seis (ou sete, se for computado o título de 2016 quando atuou como Bahia Schakttar) e da soma dos títulos do São João e Monte Serrat (seis no total), que muitos alegam ser a mesma equipe, mas com a mudança de nome no percurso.
Atualmente, o time está disputando a segunda divisão do Amador.
Por toda a minha vida eu vou te amar
Nascido em Monte Santo (Paraná) em fevereiro de 1939, o “Tio Vino”, como era conhecido Jovino, foi um dos grandes responsáveis pelos mais gloriosos anos do União 3P, time pelo qual manteve o fanatismo – rivalizado apenas pela sua paixão pelo São Paulo FC – até o seu falecimento.
“Era um cara de personalidade forte, trabalhador, justo, lutador, sofreu muito pra criar seus seis filhos. Tinha uma vida muito sofrida, mas sempre nos ensinou a sermos justos, trabalhadores e honestos e, principalmente, sermos unidos entre nós irmãos”, relembra Silvio, que junto de Valdir (Di), Valmir (Mica), Meires, Airton e Edivaldo (Ezinho), carrega o legado familiar do time.
Dos gramados, o talentoso meia campista pendurou as chuteiras aos 45 anos, quando o joelho não deu mais conta de acompanhar o que mandava a cabeça. “No Paraná, todos dizem que era um meio campo de ótima qualidade, ele mesmo dizia que nós filhos não servíamos para limpar a chuteira dele”, brinca Silvio, reconhecendo.
“Nós conseguimos jogar futebol com ele em campo e aprendemos muito. Católico praticante, ele fazia suas orações antes e depois dos nossos jogos, nos orientava falando que tínhamos que jogar com amor à camisa do 3P. Infelizmente, ele concluiu sua missão aos 79 anos, morreu de causa natural, deixando muitas saudades”, se emociona o filho.
Copa Mica
Não é apenas no Amador que a história esportiva de Itupeva se mistura com a da família “Santos”, que disputou também no futsal e protagonizou uma das maiores tragédias do futebol municipal, o falecimento de Valmir Antônio dos Santos, o Mica, em 2009, durante a disputa de uma partida no ginásio Dorival Raymundo.
“O Mica era uma grande pessoa, ótimo jogador, zagueirão de qualidade. Eterno capitão do União 3P”, recorda com saudade e reverência o primo Helinho.
Depois do fatídico acontecimento, o Campeonato Veterano de Futsal adotou o nome de Copa Mica, justa homenagem a um atleta que era querido por todos.
“Eu e meus irmãos amamos nosso time, somos conhecidos por toda a região. Em Itupeva somos queridos por todas as equipes, porque pregamos o amor e companheirismo entre as pessoas, independente de qual for o time”, finaliza Silvinho, deixando claro que a família União 3P ainda tem muito que agregar ao município e, nas páginas esportivas itupevenses, vai sempre ter um lugar de destaque.